sábado, 2 de julho de 2005


Meu pai dizia que Deus dera aquele lugar pra ele, que ali era uma terra que manava leite e mel, fazendo referência a bíblia, porque tinha muito gado solto por lá e muita abelha.

Nós moramos no Andaraí, por 2 anos; eu tinha acabado de completar 12 anos em março. E no dia 07 de abril de 1969, nos mudamos para Vila Marina. Lembro-me que meu pai dizia que lá era um morro muito mais alto do que o morro do Andaraí, por isso se chamava Morro Agudo, mais tarde Comendador Soares. Que nada! Era só pra fazer piada com a gente; lá até que tinha uns morros, até hoje tem a Serra de Madureira, na estrada de Madureira; Nossa casa ficava num altinho. Mas, nada comparado com a Rua do Diogo, no Andaraí. Papai gostava de brincar assim.

Lembro-me que pegamos um ônibus da Tijuca para a Central do Brasil, lá pegamos um trem. Não me lembro direito, mas, acho que meu pai havia ido antes com a mudança e minha mãe ficara pra nos levar depois. (Preciso confirmar isso com mamãe).
Descemos do trem não me lembro se na estação de Nova Iguaçu, ou na de Morro Agudo; pegamos mais um ônibus e descemos em uma estrada de terra, onde estavam construindo um conjunto residencial, que depois se chamou Rosa dos Ventos, na estrada do Riachão. Mais tarde mudou para Estrada da Palhada. A Estrada do Riachão era muito bonita nessa época. Era coberta de areia bem branquinha, que nos fazia imaginar ter alguma praia por perto. Que nada :-) ! Não tinha praia nenhuma. Nós nem se quer imaginávamos que ao mudarmos pra aquele lugar, seríamos os cariocas mais distantes de praia, uma das marcas fortes dos cariocas, e de todos os demais referenciais do Rio de Janeiro cidade Maravilhosa, naquela época era mais maravilhosa que hoje. Não sabíamos que nos tornaríamos turistas da cidade natal.

Sem contar que, por causa da distância, sequer imaginávamos quando iríamos passear na cidade do Rio de Janeiro. Nos tornamos suburbanos, matutus.

De onde descíamos do ônibus até a casa que meu pai comprara, andávamos a pé uns 30 minutos por essa estrada. De longe minha mãe toda empolgada, nos mostrava a casa que podíamos avistar bem pequenina, pois era um loteamento novo e não existiam por lá, 5 casas ao todo num raio de quilômetros. Me lembro que chorei de tristeza, de cara eu não gostei, era como se meus pressentimentos que me acompanham até hoje, estivessem me revelando que ali não era o lugar que nos abriria portas de oportunidades para construirmos nosso futuro um pouco mais brilhante.
E sei que toda minha família tinha e ainda tem muito brilho, é um brilho, sutil, porém marcante que se destaca, embora na verdade nós nem percebemos. Era como se eu soubesse que naquele lugar, nosso brilho se apagaria. Mas, eu só tinha 12 anos, não tinha clareza dessas coisas que acabo de escrever, hoje, aos 48 anos de idade.

A proporção que andávamos nos encontrávamos com muitos bois. Confesso que se aquele lugar fosse pra eu passar férias, penso que adoraria... Mas, pra morar! Pensar em futuro! Não. Eu já presumia que não era ali o melhor lugar.

Não tinha luz, água tratada, só poço, que inúmeras vezes meu pai, meu irmão e até eu entrara pra aprofundar atrás de mais água, pois ele sempre secava, pois como nossa casa ficava num ponto alto o veio dágua era muito ruim.

Sem colégio por perto e sem ônibus para nos deslocar até o mais próximo. Não tenho muita certeza, mas, acho que ficamos um ano inteiro sem estudar. Só no ano seguinte depois que inaugurou o conjunto Rosa dos Ventos, retomamos os estudos, lá construíram um colégio chamado 7 de setembro, me recordo de minha mãe comentando que lá no Andaraí, nós estudávamos numa escola pública muito boa, e o Itamar ia muito bem, na 3ª série, porém o rendimento dele caíra muito, quando ele retornou lá no 7 de setembro.

MORANDO NA CASA DA D. ANTONINA

DONA DO COLÉGIO 7 DE SETEMBRO

A diretora do 7 de setembro, dona Antonina, tornou-se muito amiga de minha mãe. Acho que ela era crente e se eu não me engano era solteirona. Também não me lembro porque, eu fui morar na casa dela, parece que era pra ajuda-la e ficava pra estudar, pelo que vagamente me lembro não fiquei muito tempo. Eu já não conseguia me enquadrar a algumas coisas impostas a mim, que não faziam muito sentido ao meu modo de ver. (vou apurar essa história com minha mãe) Uma coisa boa que me lembro que me ocorreu durante o pouco tempo que morei na casa dela foi que lá no conjunto eu arranjei um namorado, ele era marinheiro e pelo que me lembro, foi o primeiro namorado assim de abraçar, encostar o corpo, beijar na boca.

Lembro-me de algumas vezes que saia acho que escondida para encontra-lo pelas ruas do conjunto e ficávamos debaixo das árvores, nas noites de chuva, eu achava lindo o raio de luz dentre as das lâmpada que cortava a escuridão. Imagino que essas cenas me marcaram porque lá na Vila Marina ainda não tinha luz, e era tudo muito escuro. Era ótimo para admirar as noites enluaradas. Aí era lindo!

Aprendi com meu uma música assim:

Lua bonita, se tu não fosses casada.
Levaria uma escada para o céu te beijar
Lua bonita, se não fosse teu calor
Pedia Nosso Senhor, pra contigo me casar

Lua bonita, me causa aborrecimento
Ver São Jorge no Jumento recebendo teu clarão.
Por que casaste com um homem tão sisudo
Que come, dorme, faz tudo
Dentro do teu coração?

Sei que gostava de tomar banho no banheiro dela porque era todo revestido de cerâmica, tinha box e bidê. Nas casas que até então eu morei não tinha. Eu me lembro que fiz o Admissão, era uma espécie de preparatório para o aluno que saia da 4ª série do antigo primário e ia ingressar no 1º ano ginasial. No admissão como todo aluno dessa fase, eu também tinha uma turminha e me lembro muito bem da Geysa e da Raquel, éramos o trio parada dura. D. Antonina ficava louca com a gente. A Raquel era bem magra e brigona, a Geysa era baixinha do corpão, cintura fina, coxas grossas, bunda grande e olhos verdes, só que tinha uma cicatriz da cabeça até a ponta do nariz, de uma cirurgia que teve que fazer ao nascer, devido a complicações no parto.

Eu, não sei como me descrever, na verdade não vem nenhuma imagem minha como veio das minhas amigas quando comecei a contar sobre elas. Devia ser o complexo que eu sempre tive, mas sempre lutei contra, encobrindo-o com uma adolescente moleca, extrovertida, a atração. Usava isso como arma pra esconder meus medos e complexos. Eu já sofria de baixa auto-estima; nessa fase. Não gostava do meu cabelo eu não sabia como penteá-lo. Eu era única filha mulher, no meio de 4 homens: 3 irmãos, e meu pai. Minha mãe não era vaidosa. Então não ligava pra essas coisas de aparência e também por ser muito religiosa, o tipo de roupa que ela aceitava era muito séria pra mim; não gostava de maquiagem, enfeites e etc.

Lembro-me que eu usava o velho golpe das meninas que viveram sua adolescência nos anos da mini-saia. Os pais ordenavam: a saia tinha que ser abaixo dos joelhos. Os, adolescentes nos anos 60 não tinham direitos a voz como nossos filhos e então éramos obrigadas a aceitar a imposição dos pais. Mas, quando chegávamos na rua, enrolávamos o cós para subir a saia até a altura que desejávamos; a da mini-saia.
Como era costume da minha família, desde o nascimento, íamos pra igreja todo domingo. Pela manhã, tarde e noite, rotina que pra nós era muito natural, porque desde meus avós, principalmente maternos era assim.

COISAS DA ADOLESCÊNCIA - PARTE II

Cansada de ser esnobada, dei um tempo de Joca e comecei a dar aulas para o extinto MOBRAL. Não me conformava ver tanta gente bonita e mais velhas do que eu sem ler, sem escrever. Me inscrevi no MOBRAL – MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO, era um programa de governo para alfabetização de Jovens e Adultos. Naquela época bastava a pessoa ter cursado o Admissão, ou estar cursando o antigo ginasial, era o meu caso; participava de uma reunião, passava por um rápido treinamento e estávamos aptos para alfabetizar. Mensalmente, recebíamos material, livros cartilhas para distribuir com os alunos e podíamos formar turmas com alunos a partir de 15 anos de idade. Prestávamos relatório mensal, plano de aula e recebíamos um valor que atrasava de dois até quatro meses pra receber. Mas, eu não estava nem aí.

Minha mãe liberou a nossa sala, meu pai muito habilidoso confeccionou as carteiras. Com pouco tempo a sala era pouco e ao invés de uma turma, eu tive que por duas, e ainda assim, não atendia toda a demanda, mamãe então liberou o quarto dela que era grande como a sala, papai confeccionou mais carteiras e convidei minha prima Elizete, aquela que morava em Jacarepaguá que ia com minha tia passar final de semana em nossa casa. Ela topou, e assim nós atendíamos 4 turmas com alunos de 15 anos em diante, Lembro-me nitidamente de uma senhora a Irmã Áurea, ela era evangélica e era louca pra ler a Bíblia. Uma senhora já avó com seus setenta e poucos anos toda feliz, por estar estudando. Depois que completou o curso, ou seja, se alfabetizou, vivia contando pra todo mundo que ia morrer me agradecendo por ter já naquela idade, aprendido a ler e poder estar lendo a bíblia.

Eu tinha 15 anos de idade, dava aula manhã e tarde e estudava à noite no Colégio Batista de Austin.

Lembrança que me deixa feliz, por saber que contribuí positivamente na vida de alguém.

Passaram alguns anos, não sei quantos. Passei a dar aulas num sítio depois do conjunto Rosa dos Ventos, ainda pelo Mobral.. Lá também eu tinha muitos alunos, eu ia de carroça; tenho uma cicatriz na coxa esquerda de uma vez que a carroça passou por cima de uma cerca de arame farpado e eu assim que desci da carroça a cerca voltou pro lugar e cortou minha perna. Corte pequeno, mas, me deixou marca.

Me lembro que fiquei com estafa (esgotamento físico e mental). Essa foi a primeira. Tive que tomar vários remédios que meus pais tiveram que arcar, pois o que eu ganhava era muito pouco e ainda atrasava. Ingessões cavalares na veia pra combater a estafa.

Daí eu, decidi estudar mais e me preparar pra o mercado de trabalho e estudar para conseguir um emprego bom, e ir morar na cidade do Rio de Janeiro, voltar pra Tijuca talvez, ou morar num apartamento na zona sul, até então eu pensava fazer direito e ter uma vida independente, sem casamento e sem filhos. Daí, comecei a fazer vários cursos o primeiro foi: datilografia, depois fiz perfuração, era na área de informática, era equivalente a digitação de hoje, Mas informática naquela época, era um universo muito distante da realidade de qualquer um, quanto mais de uma menina do subúrbio do Rio de Janeiro, (as vezes eu fico intrigada e não consigo me lembrar de onde me viam esses “insight”.) Por isso mesmo, foi difícil, conseguir emprego na área, me profissionalizar.

Fico imaginando se tivesse conseguido um estágio, talvez hoje eu fosse a Analista de Sistema pós graduada e tudo, como eu sonhei.

Como era só um sonho distante, a vida não parava e eu corri atrás de emprego assim que completei 18 anos. E o primeiro que apareceu apesar de ter um diploma de datilografia, ter feito curso de perfuração e estar cursando o ginasial, eu fui trabalhar como frentista de um posto de gasolina na Rua ....... Quase esquina com a Av. Presidente Dutra, Via Dutra. Que liga Rio a São Paulo.

Pense! (como diz aqui no Ceará) Pense! No inusitado. Eu, mulher, negra, de cabelo Black Power, vestida num macacão era igual o de homem, não feminino como os de hoje. Ah! É importante lbrar que isso era em 1975.

Em frente desse Posto tinha um prédio de apartamentos populares e num dos apartamentos que dava de frente para o Posto morava um casal de lésbicas. Nossa ! Eu era a atração, até para elas era estranho; corriam para janela e ficavam de lá olhando, jogando piadinhas.

Trabalhei pouco a tempo lá, acho que foi pra ir pra A Rural e Colonização S.A.

COISAS DA ADOLESCÊNCIA - PARTE I

Até chegar a adolescência, eu participava ativamente. Sempre tive facilidade em me envolver com as atividades e o ambiente da igreja me propiciava isso. (Hoje, o Hanâny meu filho, faz as mesmas coisas no colégio com um grupo de teatro com professor e apoio da Coordenação do colégio, etc.) No colégio que eu estudava, não existia essa atividade, pouco se valorizava os dons artísticos.

Eu não freqüentava nenhum outro lugar; nem casa de tios, acho que um dos motivos era o fato de morarmos muito distante. Passada a fase da novidade nossos únicos parentes que nos visitavam sumiram. Ficamos meio de lado, como se isolados do restante da nossa família.
Na igreja, eu cantava no coral, meu pai era regente, gostava de me apresentar nas peças, recitar poesias, (o Hanâny meu filho, hoje com 13 anos, é sempre requisitado pelo professor de teatro para isso, parece que herdou isso de mim), que herdei dos meus pais, minha mãe sempre cantou, papai conta que rapazinho no interior do Rio de Janeiro, mês de janeiro quando saiam as folias de reis, os reisados. Ele era convidado pra ser o palhaço, e se vestia a caráter e cantava as músicas próprias daquele folclore. Ele contava que a voz dele era própria para o papel, pois era muito aguda. Mais tarde autodidata aprendeu a ler partitura musical e desenvolveu esse dom na igreja.  Tocou violão, acordeom, e sem muita técnica o violino.

Minha mãe logo se tornou corretora e passou a vender terrenos no loteamento Vila Marina onde tinha a nossa casa, e ela fez logo amizade com o gerente da empresa: A Rural e Colonização S.A., o Elbo, o gerente, se tornou amigo da família, todo domingo chegava um ônibus cheio de pessoas que eles levavam para conhecer o loteamento. Esta foi a forma que minha mãe encontrou de ajudar meu pai, no rendimento da família.

Para facilitar nosso deslocamento para fazer compras, ir ao colégio, igreja, etc. meu pai comprou uma carroça e um cavalo. O primeiro que tivemos foi o xerife. Um cavalo alto, elegante, marrom preciso encontrar alguma foto dele.

Essa é a carroça que usávamos com o Xerife e nos levava pra todo lugar.

(o maior fazendo careta é o Edson meu irmão que vem depois de mim e o outro é o Odílio com a cadela princesa, uma pequinês.)






Todos nós gostávamos muito do xerife mas, em especial o Edson, este ficou apaixonado pelo animal, e eram unha e carne. Edson tinha um dom lindo de desenhar cavalos, caminhões e ônibus, eram perfeitos seus desenhos; sua preferência era desenhar o Xerife.

Esse é o Xerife:
Papai sempre fez questão de manter em nossa casa um quadro-negro e giz. E essa era a tela que o Edson usava para seus desenhos.

Na estrada do Riachão, depois do seminário dos Padres, cortava um riacho, não sei se tinha nome, nunca soube. Quando chovia, ali juntava muita areia branca, a chamada areia lavada, e eu, nessa época, com 14 anos; por farra, pegava a carroça, uma pá e ia pro rio, pegar areia. Enchia a carroça com aquela areia limpinha e ia vender, não me lembro o que eu fazia com o dinheiro e nem se fiz isso muitas vezes. Mas, foi assim que conheci a família Bastos, um dos seus filhos o Joca, que ficava sempre por ali, rodeando, me vendo pegar areia, junto comigo iam também outras meninas, colegas do bairro. Ele me disse que seus pais queriam comprar areia e eu fui. Na verdade, era a chance que eu tinha de me aproximar mais dele João Fernandes, nessa época ele era um moreno tipo índio muito bonito e as garotas do bairro todas se encantavam com ele.

Eu paquerava também, mas sempre meio retraída, por causa do meu complexo de inferioridade, embora estivesse muito afim dele, de cara eu já achava que não ia conseguir porque uma das meninas que fazia parte do nosso grupo, não lembro agora o nome dela, o rosto dela acaba de vir na minha mente. Era mais gostosa do que eu. Ela era diferente de mim, era mais mulher.

Então, ir na casa dele oferecer areia para os pais dele era um achado. Fiquei toda animada. A fama da família dele era conhecida, todos sabiam que os pais dele eram nordestinos bravos, e a mãe dele espantava a mulherada que vivia atrás dos seus filhos, morenos bonitos, e as filhas também, mulheres muito bonitas e também muito presas, trabalhavam duro e não tinham nenhuma liberdade, nem de fazer amigos ou receber amigos, ou amigas em casa. Eles eram donos de vacaria. E vendiam leite pela redondeza. Elas iam pro mato cortar capim e chegando em casa cortavam todo aquele capim para o gado comer durante a noite, e de madrugadinha acordavam para tirar o leite. Lá também não tinha água encanada e toda água usada, para a família e para o gado era puxada de um poço muito fundo por baldes amarrados em cordas. E as mulheres eram quem mais faziam esses trabalhos, fora todo o serviço doméstico. Os homens tinham mais regalia, as mulheres tinham que dar a roupa, a toalha, os chinelos, na mão deles, fazer o prato deles. Eu não entendia isso, Pois embora eu vivesse numa casa com mais homens do que mulheres, meus pais sempre nos tratou de forma igualitária, não me lembro de terem privilégios por ser desse ou daquele sexo. Quantas vezes vi meu pai lavando louça, varrendo casa, etc... Então eu estranhava aqueles costumes, mas, me tornei logo íntima da família. Pois os pais dele me receberam de braços abertos, afinal eu era, no conceito deles uma mulher trabalhadeira.

Quando cheguei na casa dele com a carroça cheia de areia branca, fui muito bem recebida por toda família, suas irmãs me adoraram, meu apelido era Sorria. Mas eles passaram a me chamar de Sorriso. Sei lá porque, tinha a impressão que eles achavam mais fácil. Ia sempre pra lá e me juntava à mãe e irmãs e ia pro mato apanhar capim para o gado. O pai dele também me curtia pra caramba. Eu sentia que lá, me aceitavam como eu era, me sentia acolhida; sem cobranças. Ou, 'forçação de barra" pra eu me enquandrar. Mas, o Joca mesmo, esse não ligava muito pra mim, não. Eu é quem dava em cima dele, sem parar. Chorava, sofria e ele além das meninas que sobravam ele tinha um caso com uma mulher bem mais velha que ele, que era o inferno astral da D. Lurdes, a mãe do Joca. Que dava a maior força pra que ele ficasse comigo. Já as irmãs e o pai, achavam que eu estava perdendo meu tempo. Pois ele não quis estudar, não sabia ler, nem escrever, se quer havia tirado seus documentos, já tinha passado da data e muito pra ele se apresentar para o exército. Lembro-me que eu o ajudei a cobrir o nome para tirar RG, e se alistar. Mas, mãe é mãe ali naquele bairro tinha muita gente analfabeta.

Capítulo - 1967

Em 1967, aconteceu um episódio desagradável um desentendimento de meu pai com uma vizinha por causa do Itamar que brincava com um filho dessa vizinha em uma poça de lama em frente à nossa casa. A mulher muito desaforada veio tirar satisfações por causa da queixa de seu filho com palavrões e agrediu verbalmente a moral de meu pai, que no ímpeto reagiu de uma forma um tanto quanto radical... Por causa disso, voltamos a morar no Andaraí, na Tijuca.

Acho que Deus tava “dando uma forcinha” pra gente ficar morando lá. Mas, meus pais, entenderam diferente.
E tinham suas razões. A casa que morávamos no morro do Andaraí era de propriedade de meus avós maternos e como minha mãe tinha mais de dez irmãos, pra evitar confusão, meus pais acharam melhor comprar uma casa para a família. Meu pai, sempre foi muito independente, e eles também detestavam pagar aluguel. Com o salário que tinham, o lugar que dava acesso para comprar uma casa com 2 quartos e demais dependências, um quintal com mais de 700,00m2, o que daria para realizarem seus sonhos, plantar, e criar uns animais foi em Vila Marina, um loteamento, localizado no município de Morro Agudo, Distrito de Nova Iguaçu. De novo na baixada fluminense. A casa era uma casa antiga, estilo casa de sítio, de telhas, sem laje, mas era boa, pra quem não tinha nada!



Essa era a nossa casa do jeitinho que papai comprou, pode-se constatar que não há eletricidade ainda. Essa foto foi tirada num dia em que a minha tia Esther irmã da minha mãe, foi lá pra casa com seus 3 filhos, meus primos: Carlinhos, Luiz e Elizete, (que alguns anos mais tarde, fica em nossa casa me ajudando em um projeto do governo para alfabetização de jovens e adultos). Um problema gravíssimo daquele lugar.



Acho que nesse dia, o meu tio Josué, com minha tia Elza, meus primos Joelza e Joelson também estavam juntos. Nossa família tanto materna quanto paterna é muito brincalhona, essa foto é testemunha disso. Meu tio fingindo que estava tocando juntamente com minha tia Elza, puseram a filha minha prima Joelza com um chapéu nas mãos como se estivessem arrecadando ajuda numa praça. Era muito divertido quando eles iam à nossa casa.

Eles moravam em Jacarepaguá, e adoravam ir lá pra nossa casa. Era como se estivessem indo pra um sítio ou uma chácara.
O lugar nessa época por volta de 1965, ainda não tinha muitos moradores, então nos proporcionava uma sensação de liberdade tão grande que minha tia e meus primos sempre brincavam de jogar água uns nos outros, (eu não me lembro quantas vezes isso aconteceu, lembro-me com clareza quando aconteceu), nós corríamos um atrás do outro, distâncias enormes que iam até o outro loteamento em frente; que nessa época ainda se quer havia sido dividido em lotes.


Nessa foto da esquerda para a direita:

Lembro-me também, que meu pai, pintou a casa por fora com cal, e os biquin-de-lacre, uns pássaros pequeninos do bico vermelho. Vinham em bando e imaginávamos que eles ao verem tudo branco em sua frente pensavam que era nuvem, porque se tacavam na parede da casa e a maioria caia em nosso quintal, alguns mortos, a maioria tonta e a gente se arriscava pegá-los, mas, a gente não tinha gaiola. Nem como cuidar. Sei que não ficávamos muito tempo com eles.
Meu irmão Edson, eu com o carrinho de mão, meu primo Carlinhos filho da Tia Esther (irmã da minha mãe); meu tio Josué (irmão da minha mãe); meu pai, meu primo Luis (irmão de Carlinhos)e na frente minha prima Joelza (filha do meu tio Josué).

Minha tia Esther; minha avó materna Francisca, a vó chiquinha e a Zete (Elizete)minha prima filha da tia Esther.

sexta-feira, 1 de julho de 2005

CORREÇÕES E EXPLICAÇÕES

Minha mãe mora comigo. Mas, desde novembro do ano passado (2004), que estava fora visitando parentes.

Foi ao Rio para o casamento do Edson (meu irmão a baixo de mim), aproveitou para visitar o Itamar, meu irmão do meio visitou também os irmãos dela; cunhados e cunhadas sobrinhos e agregados. De lá foi pra casa do Odílio o meu irmão caçula que mora em Maceió. Retornando a Fortaleza para minha casa essa semana, dia 30 de junho de 2005.
Como a minha conexão ainda é discada, fico mais à vontade na NET nos fins de semana. Ontem, sábado à tarde conectei e chamei mamãe para ver as fotos que estou disponibilizando na história e ler partes da história pra ela. Minha intenção era em primeiríssimo lugar, sentir a reação dela sobre os textos que falam sobre ela e meus avós. E ela achou tudo muito interessante e concordou com o que eu escrevi e ainda me incentivou contando que minha cunhada de Maceió, professora de históiria que é, esteve comentando que sente necessidade de levantar a história da família dela e da minha família (do meu irmão), para tentar compreender melhor o comportamentos dos filhos.

Achei o máximo quando li pra ela o trecho que conto de quando morei na casa da D. Antonina a Diretora e proprietária do Colégio Sete de Setembro. Antes de eu concluir a frase:

"... Também não me lembro porque, eu fui morar na casa dela,
parece que era pra ajuda-la e ficava pra estudar, pelo que vagamente
me lembro não fiquei muito tempo. Eu já não conseguia me enquadrar
a algumas coisas impostas a mim, que não faziam muito sentido ao
meu modo de ver. (vou apurar essa história com minha mãe)..."

Eu achei muito engraçado porque antes que eu lesse o trechinho que eu digo que não me enquadro ou perguntasse porque fui morar lá ela já foi se justificando. Riu, fazendo um movimento com os ombros pra cima e encobriu a boca com a mão como de costume e contou:

- Depois de um passeio que uma das turma do colégio fizera em nossa casa (eu não me lembro disso), conversando com a diretora, elas chegaram a conclusão de que eu indo pra casa da D. Antonina, lá aparenderia como ser uma dona de casa. Pense ! Hoje eu entendo o porquê da intuição escrever essas frases:

"...Eu já não conseguia me enquadrar
a algumas coisas impostas a mim, que não faziam muito sentido ao meu modo de ver..."

Êta, bichinho que nunca me abandonou é essa danada da minha intuição!
Ela também me ajudou a corrigir algumas datas...
Continuarei detalhando outras lembranças com ela.